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A INGAIA CIÊNCIA, CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


A INGAIA CIÊNCIA, CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

A madureza, essa terrível prenda
que alguém nos dá, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estrela,

a madureza vê, posto que a venda
interrompa a surpresa da janela,
o círculo vazio, onde se estenda,
e que o mundo converte numa cela.

A madureza sabe o preço exato
dos amores, dos ócios, dos quebrantos,
e nada pode contra sua ciência

e nem contra si mesma. O agudo olfato,
o agudo olhar, a mão, livre de encantos,
se destroem no sonho da existência.

Petrúcio – Rose, por que podemos dizer que o poeta vê a madureza como um presente terrível?
Rose – O poeta evidencia que o presente é gratuito, qualquer presente é um gesto gratuito mas quando alguém dá como presente o começo da velhice, o presente não é tão bacana. Porque esse é um presente forçado, obrigatório.  Falta o gesto dadivoso nessa prenda ( presente). Até porque o presente ( estrela) vem glacial, ou seja, frio.
Petrúcio  - entendi
Rose -  o poeta segue e mostra o que é o tal presente. Ele corta as surpresas que a juventude normalmente acarreta. “A VENDA interrompe a surpresa da janela’.
Petrúcio – de que venda ele fala?
Rose – a venda que cobre os olhos. Quem amadurece não vê mais novidade e seu mundo se torna fechado, uma cela.
Perceba que a madureza por ser experiente já passou por percalços vários. O poeta já viveu amores – que provável o machucaram; arrependeu-se do tempo em que vagabundeou em vez quiçá de ler mais, lutar mais. Fica claro, Petrúcio, que não há o que fazer contra a madureza.
Petrúcio- por que ele acha que a madureza é uma ciência?
Rose – porque ela é certa, empírica, só quem viveu e chegou à idade mais avançada  sabe que com provas e evidências, a tal ciência, a madureza, impede o questionamento, a esperança de mudança. Ela é o que é.
Quem viveu e amadureceu conhece o preço exato das ‘burradas’ que tenha feito na vida.
A madureza sabe o preço exato
dos amores, dos ócios, dos quebrantos,
e nada pode contra sua ciência
...............

Perceba aqui embaixo que a madureza não pode lutar nem contra ela mesma. Porque quando se envelhece perde-se quase tudo: o olfato bom, o olhar. A mão já não encontra, tateia encantos. A existência logo será destruída.

e nem contra si mesma. O agudo olfato,
o agudo olhar, a mão, livre de encantos,
se destroem no sonho da existência.

Petrúcio – por que a ciência da madureza é IN- GAIA.
Rose – porque para os provençais lá na Idade Média a poesia era algo bom, alegre. Mas o eu lírico colocou o prefixo in para mostrar que ficar velho não é gaio, não é alegre.

.............................
EXERCÍCIO DO ANGLO SOBRE ESTE POEMA. NÃO TOCA EXATO NO POEMA MAS NO LIVRO. NO SENTIDO DO LIVRO.

VEJA QUE A QUESTÃO NÃO TOCA BEM ESTE POEMA MAS AO TODO;  MAS SERVE PARA MOSTRAR QUE AÍ NÃO HÁ INTERTEXTUALIDADE.

Leia o poema para responder a questão
A Ingaia Ciência
A madureza, essa terrível prenda
que alguém nos dá, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estela,
a madureza vê, posto que a venda
interrompa a surpresa da janela,
o círculo vazio, onde se estenda,
e que o mundo converte numa cela.
A madureza sabe o preço exato
dos amores, dos ócios, dos quebrantos,
e nada pode contra sua ciência
e nem contra si mesma. O agudo olfato,
o agudo olhar, a mão, livre de encantos,
se destroem no sonho da existência.
Ainda, do poema A Ingaia Ciência, é possível, também, afirmar que
·         a
não permite nenhum tipo de intertextualidade, já que sendo totalmente original, refere-se à maturidade como causa da infelicidade humana.
·         b
é destituído de força poética, visto que formalmente rígido, não apresenta nenhum recurso estilístico.
·         c
insere-se em uma obra cujo título denuncia a aproximação de opostos, caracterizados como oximoros. Deram como correta
·         d
é dominantemente constituído por uma linguagem de função referencial, mais preocupada com a informação do que com a expressividade lírica.
O título da obra de Drummond, Claro Enigma, apresenta um oximoro, figura de linguagem que consiste em reunir palavras de sentido oposto, que se contradizem. Ressalte-se apenas que, considerando o contexto da obra, por causa da dualidade constante nos conflitos do eu lírico, as palavras “claro” e “enigma” complementam-se, o que significa dizer que o oximoro é usado programadamente, como recurso estilístico.




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